Os Professores Sergio Wanderley e Alexandre Faria publicaram um artigo inovador no Cadernos do Desenvolvimento, periódico publicado pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento. O artigo “Descolonizando a gestão estratégica: o (des)encontro Alfred Chandler-Celso” é tido como inovador pelos editores por mostrar que a área de gestão estratégica estaria mais capacitada a prever as crises da ordem neoliberal e a promover teorizações e frameworks relevantes, especialmente para o Brasil e outras economias emergentes, se o trabalho de Celso Furtado tivesse sido conhecido por um dos pais da gestão estratégica, Alfred Chandler Jr. Os autores argumentam que o resgate de conhecimentos produzidos por Celso Furtado e outros expoentes da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) e da conexão histórica entre gestão e desenvolvimento devem ser fomentados pelo campo da gestão e pela área de estudos do desenvolvimento tanto no Brasil quanto nos EUA e Europa para a superação das seguidas crises da ordem neoliberal.
A publicação do artigo se dá em um contexto da redescoberta da obra de Celso Furtado no Brasil por diferentes áras do conhecimento e o lançamento de dois novos livros: Essencial Celso Furtado, pela Penguin/Companhia das Letras, e Celso Furtado e a dimensão cultural do desenvolvimento, pela E-papers.
Comentário de Rosa Freire d’Aguiar, presidente do Conselho Deliberativo do Centro Celso Furtado, sobre o artigo: “Em meados de 2012 Sérgio Wanderley me procurou para saber se Celso Furtado, meu marido, tivera algum encontro, quem sabe até um diálogo acadêmico, com Alfred Chandler. Afinal, foram trajetórias de certo modo paralelas. Chandler era só dois anos mais velho. Nos anos pós Segunda Guerra Mundial, da qual aliás ambos participaram, um e outro preocuparam-se com problemas de desenvolvimento, modernização e gestão, temas sobre os quais um e outro escreveram livros fundadores. A indagação de Wanderley era pertinente, tanto mais que no início dos anos 1950, Celso, jovem economista da Cepal, visitara os grandes economistas das universidades americanas, a começar por Harvard, onde Chandler fazia seu doutorado. Mas a resposta para Wanderley seria negativa: não constava nos trabalhos de Celso nem em seus arquivos nenhuma referência a Chandler. À primeira vista, a razão desse desencontro poderia ser geográfica. Porém — aí o grande achado de Alexandre Faria e Sergio Wanderley —, esse (des)encontro, como eles o qualificam, foi motivado não pela geografia, mas pelo lastro eurocêntrico que marcou a colonalidade no campo da estratégia e da geopolítica do conhecimento. Ou seja, apesar da grande contribuição teórica que teria a oferecer, Celso teve sua influência reduzida pela mentalidade que preteria o pensamento do Sul em benefício do conhecimento produzido no Norte. O texto de Faria e Wanderley situa-se na confluência dos estudos da economia, do management e da história econômica comparada. Sua originalidade é esse paralelismo constante entre dois modos de se entender os pontos de esteio para a promoção do desenvolvimento, Celso defendendo a ação do Estado, Chandler a das multinacionais. Mais que inovador, trata-se de um trabalho estimulante”.
Celso Furtado