O Governo Federal decidiu adiar as provas do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), também conhecido como Enem dos Concursos, que estavam inicialmente previstas para acontecer no dia 05/05.
Com as enchentes históricas no Rio Grande do Sul, os cerca de 2,14 milhões de candidatos inscritos para disputar uma das 6.640 vagas distribuídas em 21 órgãos públicos, neste que é considerado o maior concurso de todos os tempos, aguardam pela publicação de uma nova data enquanto os resgates e a reconstrução nas cidades do Sul brasileiro continuam acontecendo.
Segundo Alketa Peci, Vice-diretora Acadêmica e professora da FGV EBAPE, o novo modelo de seleção que prevê aplicação de provas em 220 cidades em todas as regiões do país é uma mudança positiva que aproxima o concurso público dos inscritos, diminuindo as barreiras que muitos enfrentam ao participar do certame.
"Os candidatos enfrentam custos como com avião, hotel, e muitos por vezes não conseguem ultrapassar essa barreira", diz. "Só de sair do eixo de Brasília e diversificar as regiões do país, você traz outros olhares, mais diversos e sensíveis às necessidades locais", explica a professora.
No entanto, Peci aponta que dificilmente haverá mudança no fato de que os candidatos com melhores condições socioeconômicas saem na frente. "Acredito que esse concurso vai manter esse mesmo padrão. O Brasil é um país extremamente desigual, duvido que só pela parte da regionalização a gente conseguiria ver outra composição sociodemográfica de pessoas que passam no concurso público."
A professora Alketa Peci também destaca que, embora o ponto mais discutido do novo modelo de concurso seja sua descentralização na aplicação da prova, a principal novidade está em abrir a discussão sobre deixar o serviço público "menos engessado".
"Tem um problema que se enfrenta hoje no setor público que é uma falta de mobilidade entre diversas carreiras e cargos. A pessoa entra naquela vaga, naquela instituição, e permanece a vida toda. Hoje nosso arcabouço legal não nos permite muito reajustar a força de trabalho de acordo com as novas demandas", diz. "É natural que alguns cargos fiquem obsoletos e outros tenham demanda crescente."
"Não é com um concurso público que vai se resolver isso, mas acredito que outras medidas podem ser pensadas para caminhar nessa direção. Serão necessárias mais mudanças, que vão permitir maior flexibilidade e mobilidade da força de trabalho, mas o concurso abre janela de oportunidade para avançar nessa direção, na medida em que trabalha com grandes áreas estratégicas."