CESGE - LINHAS DE PESQUISA - ESG
CESGE - LINHAS DE PESQUISA
ESG - Environmental, Social and Governance
O crescimento da escala dos projetos de engenharia, do tamanho e complexidade das organizações, não foi acompanhado pelo desenvolvimento de soluções de governança capazes de garantir, de fato, que os interesses dos stakeholders sejam levados em conta no processo decisório e prioridades de gestão. Os recentes acidentes de grande magnitude no Brasil revelam falhas significativas no processo de construção e compartilhamento de informações, especialmente com a alta direção e conselhos de administração, nem estratégias que os permitam compreender os riscos e a urgência de mitigá-los.
O não endereçamento dessa questão aumenta do desempoderamento dos empregados ao longo da hierarquia da organização, servindo para a construção de um contexto de forte complacência com os sinais fracos que permitiriam ver, tratar e antecipar grandes riscos. A falta de disciplina operacional para o tratamento desses sinais e a falta de voz dos níveis subordinados para comunicar riscos prováveis é proporcional à falta de informação consistente e suficiente para a alta administração e para o conselho da empresa. Enormes lacunas de informação se formam enquanto cada indivíduo acredita que os riscos estão sendo tratados por alguém ao longo da hierarquia.
Assim, a análise do modelo de governança e do alinhamento entre os diversos executivos e gestores ao longo da hierarquia torna-se fundamental para o diagnóstico das possíveis lacunas e oportunidades de melhoria das relações com stakeholders. Para tanto, essa linha de pesquisa busca identificar as competências organizacionais existentes, as melhores práticas e os espaços de melhorias para aumentar a capacidade de alinhamento e entrega de valor para os stakeholders. Neste sentido, a linha de pesquisa buscará identificar as virtudes organizacionais e as lacunas para a excelência, de forma a gerar sinergias para o aprimoramento do modelo de governança e gestão. Essa perspectiva está baseada no entendimento que a qualidade da relação com os diversos públicos de interesse (stakeholders) passa a ser fundamental para garantir a sua sustentabilidade e lucratividade.
O Equilíbrio na Relação com Stakeholders
O desenvolvimento da competência organizacional em atuar de modo cooperativo com seus diversos stakeholders (acionistas, empregados, comunidades de entorno) é um fator crítico para a redução de riscos empresariais, e motivador, pois expande o sentido e o significado do trabalho dos membros da organização e permite a percepção de que a sua causa é maior do que a geração de lucro para o acionista. É quando o capital aportado pelo acionista pode ser compreendido como recurso e meio para entregar valor de modo sustentável para um grupo maior de stakeholders.
É possível criar um contexto organizacional onde a excelência do conjunto aumenta a confiança para o mercado, que atrai capital para a empresa, e que o transforma em riqueza e desenvolvimento local. O sentido para um novo senso de compromisso e comprometimento pode facilmente ser elaborado com base em histórias e experiências positivas já existentes. É importante notar que, quando a causa é tão somente o retorno para o acionista, não há bases concretas para sair de um modelo de liderança transacional nas relações de trabalho e construir engajamento para além do interesse pessoal do empregado e nem para criar as condições adequadas para operar nesse contexto.
Vários estudos apontam para o limite que a ética dos shareholders por impor um limite para o desenvolvimento da qualidade do vínculo do empregado e demais públicos, com a organização. Em organizações com essa característica, o engajamento geralmente ocorre por vínculos paternalistas ou por lealdade pessoal a um chefe, líder ou fundador. Dado a natureza dos desafios das empresas no Brasil, há ganhos de estratégia, de integração interna e de produção de valor de marca consideravelmente maiores com a teoria dos stakeholders. Incorporar essa visão na gestão organizacional pode aliar a necessidade de encontrar formas de atuar com a qualidade da coalisão interna, e fortalecer ao mesmo tempo o engajamento necessário para o desempenho dos projetos de segurança e meio ambiente.
A qualidade do vínculo das pessoas com a organização é o que estabelece a diferença entre o trabalho com mercenários, em um extremo, e o trabalho com missionários, em outro (Zanini, 2016). A capacidade de obter engajamento para além do interesse pessoal nesse segundo grupo é significativamente maior. O fato das ações baseadas em jogo ganha-ganha com as comunidades serem percebidas como éticas e verdadeiras está na base da qualidade do vínculo gerado. É interessante perceber que, quando incorporamos os interesses dos stakeholders, os desafios externos são transformados em vantagem competitiva com grande potencial para a criação de uma coalizão de pessoas mais robusta do que se encontra em outras organizações.
Há uma grande oportunidade em trabalhar esse elemento para aprimorar a vivência das crenças de gestão a partir dele, gerando uma estratégia de gestão de pessoas coesa, coerente e alinhada com os projetos de SMS, onde o Lucro Admirável é o resultado do trabalho de uma comunidade de excelência com cada indivíduo pode, de fato, fazer a diferença. A justificativa pode ser encontrada nos esforços pela busca pela compatibilidade positiva entre a sustentabilidade econômica e social de longo prazo, e a eficiência econômica no curto prazo (ver Figura 01 abaixo).
Figura 01. Compatibilidade Positiva entre as Ações de Curto e Longo Prazo
Essa compatibilidade pode ser alcançada por meio dos princípios e valores difundidos, praticados e compartilhados na organização. Nesse contexto, a compatibilidade entre o propósito engajador e a busca pelo lucro passa a ser, ao mesmo tempo, necessária para o crescimento do negócio e para a expansão da capacidade da organização de promover o crescimento das pessoas, parceiros e o desenvolvimento local. Essa tarefa, no entanto, precisa ser conduzida de forma planejada para que o valor dessa competência não se perca em ações de “endomarketing” ou comunicação interna desconectadas do fazer das pessoas e da organização. As mensagens e os meios de comunicação a serem utilizados precisam ser cuidadosamente planejados para não destruir a percepção de verdade. O uso inadequado de estratégias de persuasão podem destruir a credibilidade das informações.
8.2 Objetivo do Projeto
O objetivo desta linha de pesquisa é investigar o modelo de governança e a sua capacidade de promover a congruência de interesses pelo alinhamento dos múltiplos stakeholders da organização, em busca de oportunidades de aprimoramento na colaboração e cooperação orientada para a segurança e gestão de riscos.
NOTAS
A teoria do acionista, conhecida nos estudos de ética econômica como “A doutrina de Friedman”, ou stockholder theory, é uma proposta do economista Milton Friedman, que afirma que a responsabilidade da empresa é com o aumento dos lucros. Ele argumenta que a empresa não deve se responsabilizada socialmente e que a responsabilidade pública e/ou social é de outros entes/agentes. Os pressupostos da teoria do acionista são inconsistentes com os Princípios da Responsabilidade Social Corporativa. A doutrina oposta, ainda dentro do debate sobre as obrigações éticas e os beneficiários das organizações, é a teoria das partes interessadas, ou a stakeholder theory, segundo a qual, a teoria de Friedman fere os fundamentos da ética, pois transforma seres humanos (os stakeholders) em meios para fins de outro e gera um forte volume de oposições contra as organizações. É a teoria que orienta a organização para a ética e a moral aplicada aos negócios. Essa visão foi originalmente elaborada por Edward Freeman no livro Strategic Management: A Stakeholder Approach, onde ele identifica e modela os grupos que podem ser compreendidos como stakeholders das organizações e descreve e recomenda métodos para leva rem conta seus interesses. Na visão tradicional da democracia liberal há uma visão oposta, expressa por Friedman, a essa visão, que reforça o dever fiduciário das organizações e sua necessidade de se concentrar no seu aumento de valor.
OBSERVAÇÃO:
O conteúdo desse site é de autoria e responsabilidade dos professores Carmen Migueles e Marco Tulio Zanini.