CESGE - LINHA DE PESQUISA - FATORES HUMANOS EM GESTÃO DE RISCO

CESGE - LINHA DE PESQUISA

FATORES HUMANOS EM GESTÃO DE RISCO

Os rankings globais de competitividade, produtividade, inovação e gestão de riscos revelam o Brasil em uma posição bastante desfavorável. E nossa posição é desproporcional ao volume de recursos humanos e materiais da nossa sociedade. Países mais pobres avançam de forma mais consistente e mais sustentável. Convivemos com dificuldades recorrentes e muita incerteza. E nesse contexto, pouco paramos para compreender as causas mais profundas dessa nossa posição.

Com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento das organizações públicas e privadas no Brasil, realizamos na FGV EBAPE uma longa pesquisa aplicada para estudar as causas das nossas dificuldades. Depois de 19 anos de pesquisa, conseguimos isolar e compreender o papel dos fatores intangíveis que nos colocam nessa posição. Nossas pesquisas reforçam a nossa crença que, se gerirmos adequadamente esses fatores, ganhamos em produtividade, competitividade e capacidade de gerir melhor os riscos, reduzindo as perdas relativas a acidentes de trabalhos e às assimetrias de informação que nos impedem de inovar e antecipar oportunidades no mercado.

O volume de investimento privado em pesquisa é o principal fator hoje que diferencia as economias mais competitivas das menos competitivas. No Brasil, a quase totalidade dos recursos de pesquisa são públicos. O afastamento entre as organizações produtivas e a pesquisa aplicada é uma ameaça para o nosso desenvolvimento. Consciente do desafio de produzir interações produtivas entre esses dois setores, planejamos, na EBAPE, uma forma de baixo risco para dar início a essa aproximação: compartilhando esforços e custos, podemos, juntos, avançar nesta área e abrir espaços para ganhos derivados da competitividade, da produtividade e da gestão de riscos.

Objetivos da Linha de Pesquisa

O objetivo do Projeto Fatores humanos em Gestão de Risco é a geração e o compartilhamento de conhecimento, melhores práticas e metodologias de impacto:

  • - Nas perdas não mensuradas,
  • - Na redução das taxas de acidentes,
  • - No aumento da competitividade das organizações brasileiras.

Nossas pesquisas iniciadas em 2001, após a sequência de grandes acidentes da Petrobrás, produziu um livro, patrocinado pela própria empresa: Criando o Hábito da Excelência (2007), que foi amplamente utilizado nos desenvolvimentos sobre o tema e gerou edições especificas para a Petrobrás, Vale e outras empresas. O Projeto Fatores humanos em Gestão de Risco nasce desta nova demanda empresarial.

Pesquisa Aplicada em Fatores Humanos em Gestão de Risco

Um dos objetivos principais do CESGE é desenvolver metodologias capazes de alavancar a segurança, a produtividade e a qualidade, em seus diferentes âmbitos, por meio do tratamento adequado dos fatores intangíveis que afetam a organização social do trabalho, fazendo que que o aspecto social de sistemas sociotécnicos contribua de forma estruturada para resultados, colaborando para o desenvolvimento da gestão de ativos intangíveis baseada em evidências. Os estudos em Confiabilidade Humana abordam os impactos da performance humana e do erro em situações de risco. A Teoria da Confiabilidade humana em geral assume que sistemas bem definidos e azeitados conseguem prever o erro humano e aumentar a sua eficiência. No entanto, tal abordagem encontra limites quando desconsidera ou reduz a importância de outros elementos, por exemplo, o efeito dos sistemas de poder, o modelo de governança, o estilo de liderança e a assimetria de informações. Neste sentido, propomos contribuir com a Teoria da Confiabilidade humana utilizando complementarmente métodos indutivos, buscando identificar a influência desses elementos nos resultados de segurança e eficiência operacional. Portanto, esta linha pesquisa utiliza a combinação de métodos qualitativos e quantitativos. Trata-se, portanto, de uma abordagem híbrida que envolve simultaneamente os campos da avaliação de risco, confiabilidade organizacional e fatores humanos em gestão de risco. Aborda a interação entre a ação humana, máquinas e tecnologias em sistemas complexos.

Fatores intangíveis, como cultura e propensão a confiar atuam como mecanismos de coordenação informal e flexível de forma oculta sob as estruturas formais das organizações, com impactos positivos ou negativos sobre a capacidade dos indivíduos de cooperarem para a produção de resultados. As metodologias de gestão, desenvolvidas em um contexto histórico e cultural (como metodologias americanas e japonesas), não apresentam o mesmo resultado quando replicados em outro contexto. A razão para isso é que essas metodologias não são culturalmente neutras e funcionam nos locais em que foram pensadas por que se adaptam adequadamente à cultura e às instituições locais. São produtos de esforços locais para resolver problemas concretos e observáveis e, quando dão resultados esperados, acabam por entrar para o rol das soluções de gestão como se fossem soluções aplicáveis e replicáveis em qualquer contexto.

No Brasil sempre fomos ‘importadores’ desse tipo de solução de gestão. E não investimos, ao longo da nossa história, em compreender os fatores que atuam sobre nossas práticas de forma teórica e metodologicamente adequada. Esses fatores que dificultam a implementação adequada das soluções de gestão importadas tenderam a ser tratados como “fatores irrelevantes que atrapalham um pouco, sobre os quais pouco podemos fazer”.

Nossas pesquisas apontam para as perdas não mensuradas por essas inadequações e para a importância de fazer gestão desses fatores baseada em evidências. Nossas pesquisas, ao longo dos últimos 18 anos, confirmam as teses de Elinor Ostrom e de Oliver Williamson sobre como as instituições e a cultura afetam a prosperidade das nações, o resultado das economias e o desempenho das empresas (Zanini & Migueles, 2018). E que as metodologias de gestão e de gestão de cultura de segurança não são culturalmente neutras.

Em pesquisa anterior realizada na Petrobras (Migueles, Lafraia e Costa 2007), pudemos confirmar que ajustes se fazem necessários para que metodologias de gestão importadas funcionem como desejável no nosso contexto cultural. A continuidade dessas pesquisas nos levou a isolar as três dimensões de cultura nacional que, juntas, funcionam como passivo intangível na nossa economia, drenando a energia e o tempo das equipes, com impacto negativo sobre a competitividade, capacidade de inovar e de agir seguro (Migueles, Zanini,& Lafraia, 2019; Zanini & Migueles, 2018). Pesquisas em organizações que reduziram o impacto negativo desses fatores comprovam que, ao nível da cultura das organizações, é possível mitigar esses impactos abrindo espaço para a construção de ativos intangíveis (como a confiança e a coordenação horizontal que facilita a inovação, a gestão do conhecimento e a produção de resultados desejáveis em gestão da segurança e SMS).

A escassez de pesquisas sobre esse tema nas organizações dificulta os esforços em reconhecer, analisar e tratar esses fatores, o que é fundamental para aprimorar modelos de gestão adequados ao nosso contexto e de maior impacto nos resultados das empresas brasileiras.

OBSERVAÇÃO:
O conteúdo desse site é de autoria e responsabilidade dos professores Carmen Migueles e Marco Tulio Zanini.

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